NÃO DEU EM NADA

NÃO DEU EM NADA

Todo "auê" da seleção no maior episódio de politização do futebol dos últimos tempos serviu apenas como fogo de palha.

Por CARLOS SANTANA 10/06/2021 - 00:24 hs
NÃO DEU EM NADA
Montagem da internet

  O que se perde quando a política entra em campo? Essa seria uma resposta simples se eu não estivesse escrevendo sobre o contexto de polarização que vivemos aqui no Brasil. Com quase tudo politizado e cancelado, artistas, filmes, programas de TV não ficaria de fora, certamente, a maior paixão nacional: o futebol. 


  A realização da Copa América, evento privado da Comenmbol, após ter sido cancelada em países sul-americanos por crescimento da curva pandêmica, foi rapidamente abrigado pelo Brasil. O problema que se viu aqui é que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deixou de responder fabricantes de vacinas por dezenas de vezes, mas não hesitou em dar apoio imediato para que a transferência do evento ocorresse no nosso país. 


  As críticas contundentes ao Governo Federal por ter se envolvido em assuntos estritamente privados da CBF, se perdem quando a cegueira seletiva daqueles que o fazem, impedem-nos  do óbvio: o futebol já está acontecendo faz tempo - e seguindo as medidas sanitárias impostas através de protocolos rígidos, inclusive. 


Qual é o sentido de querer impedir uma partida fechada ao público no Brasil enquanto o mesmo tipo de jogo é realizada em todo o canto nos campeonatos estaduais e no Brasileirão? A diferença de cada evento na verdade, está em quem o transmite. 


  A Copa América antes era exibida pela TV Globo e seus fechados (SporTV) e a la carte (Premiére), mas agora nas telas do SBT, o evento latino-americano se torna pivô da nova encrenca que saltou da política para as linhas do gramado. 


  O interesse das emissoras teria motivado a posição explícita de jornalistas contra o evento. Isso se comprovaria devido a falta de críticas sobre os jogos os quais se tem os direitos de transmissão. Contudo, os riscos da pandemia são inerentes em qualquer atividade esportiva, mas tornar dessa forma, seletiva, a indignação coloca em alguns momentos descrédito quanto aos próprios manifestos. 


   Como resposta à pressão da mídia, políticos oportunistas da estirpe de Renan Calheiros  (relator da CPI da pandemia) se mostraram dispostos ao combate - se propondo até mesmo a fazer contato, como afirmou o senador alagoano, com os jogadores afim de impedir a bola de rolar nos gramados brasileiros. 

 

  Personalidades mais à esquerda, que comemoravam o possível engajamento da seleção na pauta da pandemia, como a Samatha Schmutz ficaram incomodados com a mudança de posição dos jogadores. A artista, que tem ativamente participado da oposição digital ao presidente Bolsonaro publicou “o que esperar de pessoas que fazem festinhas na pandemia?”. Desde a morte de Paulo Gustavo além de Samantha, outros amigos do humorista vitimado pela covid-19 seguiram no mesmo mote politizando inclusive o legado e memória do artista. 


  Diversos jogadores da seleção já manifestaram apoio ao atual presidente nas redes sociais, bem como alguns da equipe técnica possuem predileção por outros atores políticos. Tite, o técnico, por exemplo é amigo de Lula, enquanto sabe-se que a família de Neymar tem relação estreita com o clã Bolsonaro. Entretanto, todos negam que haja esse racha político-partidário no time canarinho. 


  Não é de hoje que se usa do futebol para fazer política. Em 2013 o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) enfrentou manifestações inflamadas nas ruas contra a realização da Copa do Mundo no ano seguinte. Além de ter de suportar o estádio mandando-a “tomar no cu”(sic), a então mandatária era dia e noite questionada por repórteres sobre uma frase que nem dela era sobre fazer a “Copa do Mundo com estádios e não hospitais”.  A declaração original é do ex-jogador Ronaldo “Fenômeno” dita em coletiva de imprensa por volta de 2011, onde deixava claro que o foco (naquela época) não se estava voltado para outras questões além do torneio. 


  Justiça seja feita, a economia, a política e outros fatores tinham indicadores a invejar a catástrofe do calabouço o qual estamos afundados. Verdade seja dita, antes tivéssemos contrariado o Ronaldo considerando o que nos restou de legado. A história dirá quem está certo.