NÃO DEU EM NADA
Todo "auê" da seleção no maior episódio de politização do futebol dos últimos tempos serviu apenas como fogo de palha.
O que se perde quando a política entra em campo? Essa seria uma resposta simples se eu não estivesse escrevendo sobre o contexto de polarização que vivemos aqui no Brasil. Com quase tudo politizado e cancelado, artistas, filmes, programas de TV não ficaria de fora, certamente, a maior paixão nacional: o futebol.
A realização da Copa América, evento privado da Comenmbol, após ter sido cancelada em países sul-americanos por crescimento da curva pandêmica, foi rapidamente abrigado pelo Brasil. O problema que se viu aqui é que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deixou de responder fabricantes de vacinas por dezenas de vezes, mas não hesitou em dar apoio imediato para que a transferência do evento ocorresse no nosso país.
As críticas contundentes ao Governo Federal por ter se envolvido em assuntos estritamente privados da CBF, se perdem quando a cegueira seletiva daqueles que o fazem, impedem-nos do óbvio: o futebol já está acontecendo faz tempo - e seguindo as medidas sanitárias impostas através de protocolos rígidos, inclusive.
Qual é o sentido de querer impedir uma partida fechada ao público no Brasil enquanto o mesmo tipo de jogo é realizada em todo o canto nos campeonatos estaduais e no Brasileirão? A diferença de cada evento na verdade, está em quem o transmite.
A Copa América antes era exibida pela TV Globo e seus fechados (SporTV) e a la carte (Premiére), mas agora nas telas do SBT, o evento latino-americano se torna pivô da nova encrenca que saltou da política para as linhas do gramado.
O interesse das emissoras teria motivado a posição explícita de jornalistas contra o evento. Isso se comprovaria devido a falta de críticas sobre os jogos os quais se tem os direitos de transmissão. Contudo, os riscos da pandemia são inerentes em qualquer atividade esportiva, mas tornar dessa forma, seletiva, a indignação coloca em alguns momentos descrédito quanto aos próprios manifestos.
Como resposta à pressão da mídia, políticos oportunistas da estirpe de Renan Calheiros (relator da CPI da pandemia) se mostraram dispostos ao combate - se propondo até mesmo a fazer contato, como afirmou o senador alagoano, com os jogadores afim de impedir a bola de rolar nos gramados brasileiros.
Personalidades mais à esquerda, que comemoravam o possível engajamento da seleção na pauta da pandemia, como a Samatha Schmutz ficaram incomodados com a mudança de posição dos jogadores. A artista, que tem ativamente participado da oposição digital ao presidente Bolsonaro publicou “o que esperar de pessoas que fazem festinhas na pandemia?”. Desde a morte de Paulo Gustavo além de Samantha, outros amigos do humorista vitimado pela covid-19 seguiram no mesmo mote politizando inclusive o legado e memória do artista.
Diversos jogadores da seleção já manifestaram apoio ao atual presidente nas redes sociais, bem como alguns da equipe técnica possuem predileção por outros atores políticos. Tite, o técnico, por exemplo é amigo de Lula, enquanto sabe-se que a família de Neymar tem relação estreita com o clã Bolsonaro. Entretanto, todos negam que haja esse racha político-partidário no time canarinho.
Não é de hoje que se usa do futebol para fazer política. Em 2013 o governo da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) enfrentou manifestações inflamadas nas ruas contra a realização da Copa do Mundo no ano seguinte. Além de ter de suportar o estádio mandando-a “tomar no cu”(sic), a então mandatária era dia e noite questionada por repórteres sobre uma frase que nem dela era sobre fazer a “Copa do Mundo com estádios e não hospitais”. A declaração original é do ex-jogador Ronaldo “Fenômeno” dita em coletiva de imprensa por volta de 2011, onde deixava claro que o foco (naquela época) não se estava voltado para outras questões além do torneio.
Justiça seja feita, a economia, a política e outros fatores tinham indicadores a invejar a catástrofe do calabouço o qual estamos afundados. Verdade seja dita, antes tivéssemos contrariado o Ronaldo considerando o que nos restou de legado. A história dirá quem está certo.
DARIO VASCONCELOS - Os bastidores da Lei Henry Borel
ÉRICO SINFRÔNIO - NEM TUDO QUE RELUZ É OURO
RALPH MARIANO - Cenário Político aquecido para o Governo de SP