OSASCO EM TÓQUIO

OSASCO EM TÓQUIO

Angélica se tornou um símbolo de superação e orgulho por ser a primeira representante olímpica da nossa cidade.

Por Carlos Santana 30/08/2021 - 14:32 hs
Foto: Arquivo Pessoal - Angélica Rozalen
OSASCO EM TÓQUIO
A treinadora Angelica acompanha o treino de atleta.

FICHA TÉCNICA

Nome Completo: Maria Angélica Rozalen

Ocupação: Técnica da Seleção Brasileira de Paracanoagem

Idade: 38 anos

Formação: Educação Física 

Primeiro contato com a canoagem: 2008 quando foi professora do Clube Escola de Remo e Canoagem na represa de Guarapiranga (SP)

Início na Seleção Brasileira de Canoagem: 2014 passou a ser auxiliar do técnico português Rui Fernandes. 

Angélica como ela mesma tem orgulho de se referir, é uma mulher negra da periferia que conheceu a canoagem através de um amigo do remo em 2008 enquanto terminava a faculdade de Educação Física. Ela contou para a nossa reportagem que aos 28 anos sabia que não poderia competir, mas que iria fazer parte do time "nem que fosse para carregar barco".

Sempre apaixonada pelo esporte, foi na raia da USP onde teve o seu primeiro contato com as competições. Foi de espectadora à convidada a integrar um curso de especialização no esporte. "Eu fazia de tudo organizava barco, secava barco, eu queria estar lá" disse Angelica.

Devido ao seu preparo e conhecimento com os atletas, em 2015 foi convidada pelo técnico Thiago Pupo a fazer parte da equipe auxíliar da paracanoagem. "Eu me encantei por que os atletas não tem tempo ruim, faça chuva ou faça Sol, eles não querem deixar de treinar, querem fazer acontecer".

Em 2019 parte da equipe havia conseguido a classificação, mas com o impacto da pandemia, nesta edição o clima entre o time é de "celebração à vida" conta Angélica.

A técnica conta que pôde conhecer vários países, assim como tem orgulho de contar que hoje o Brasil é referência no paradesporto geral com referência até mesmo na arbitragem.

Sob o comando técnico de Maria Angélica, Thiago Pupo e Akos Angyal, a Seleção Brasileira de Canoagem convocou sete atletas: Caio Ribeiro, Fernando Rufino, Mari Santilli, Luis Carlos Silva, Giovane Vieira, Debora Raiza e Adriana Gomes. O coordenador técnico Leonardo Maiola e a fisioterapeuta Carolina De Lazari fecham a comitiva rumo a Tóquio.

Aproveitamos a agenda corrida dias antes de viajar para Tóquio para conversar com a nossa representante Osasquense nascida e criada no bairro Jd Veloso. O bate-papo você confere a seguir.

Como foi a rotina da equipe às vésperas do início dos jogos?

Alguns atletas estiveram na Copa do Mundo na Hungria em maio (2021) e no retorno para casa fazem as correções de acordo com os resultados. O grupo de 7 atletas treinava em lugares diferentes, um grupo em São Bernardo com o técnico Akos [Angyal] e o outro com o [Thiago] Pupo na Ilha Comprida. Há também duas atletas que se prepararam em Curitiba com o treinador Cleberson.

Para as pessoas que querem seguir a carreira de atleta paralímpico profissional qual é o caminho a ser trilhado?

Eu indico que entrem no site do Comitê Paralímpico brasileiro (https://www.cpb.org.br/) e encontrar as modalidades disponíveis, assim como as informações de como encontrar lugares próximos da sua cidade para que possa iniciar no esporte.

Uma pessoa como eu se conseguiu chegar nesse patamar [de estar em uma comissão olímpica] a "caminhada é longa". É preciso fazer muitos cursos, se preparar fisicamente, ou seja não dá para deixar de se esforçar. O alto rendimento exige muita busca de informação para melhorar os resultados.

Há possibilidade de bolsas de incentivo por parte do governo e patrocínios de empresas privadas. Como uma pessoa com as suas raízes conseguirá no futuro chegar na sua posição como técnica ou no patamar da sua equipe atlética?

O governo tem o bolsa atleta, mas é preciso estar filiado a alguma associação/clube para participar de competições. Hoje além de ser uma profissão que traz melhorias para a saúde, por se tratar de um esporte para pessoas com deficiência é possível resgatar a pessoa que devido a um acidente sofrido, por exemplo se considerava inapto. O auxílio financeiro ajuda as famílias, mas é preciso demonstrar os resultados para que se consiga patrocínios.

Considerando a questão da representatividade, como você tem visto o segmento do esporte paraolímpico com equipe técnica composta na maioria de pessoas sem deficiência?

Olha, se não me engano, tem uma associação com técnico cadeirante e também está sendo muito comum agora ouvir do atleta de alto rendimento que quando aposentar irá seguir na carreira técnica. Há curso de formação no Comitê Paralímpico para trazer novas possibilidades aos atletas que assim desejarem.

O que na sua visão falta para que o Brasil consiga se posicionar no pódio internacional, como é o caso dos EUA, China, Rússia e Inglaterra? Acha que apenas patrocínio é o suficiente como investimento ou a educação pode ser um meio a ser encontrado para inserir as pessoas (deficientes ou não) no esporte?

O Brasil está entre os 10 melhores do mundo na paracanoagem e canoagem. Atualmente a terra da canoagem é a Hungria e inclusive há profissionais brasileiros atuando no exterior para formar atletas dessa modalidade. Em todas as competições que participamos conseguimos ganhar medalhas e em Tóquio não está sendo diferente.

Ainda temos um caminho a ser percorrido com a inclusão das pessoas, mas já estamos bem a frente nesse quesito do que muitos países.

Poderia nos indicar algum projeto (social) do seu conhecimento, para inclusive indicar, para que mais pessoas possam a vir a se interessar pela paracanoagem após a realização das olimpíadas?

Indico os projetos "Rema que dá Certo" no Ceará que trabalha tanto paracanoagem como canoagem olímpica. O PSM Performance e Saúde fica em Brasília específico para desenvolvimento da Paracanoagem e se quiserem conhecer como eu, através das bases, é importante ficar por dentro de eventos e competições.