"RAÇA DESGRAÇADA"
Com inédito recado contra a intolerância, marcas saem do discurso pró-diversidade e cancelam fala homofóbica dita em programa de TV. Sikeira pediu desculpas publicamente após grande perda de dinheiro dos seus anunciantes.
Na última sexta-feira (25) o irreverente apresentador Sikeira Jr fez uso do espaço no telejornal Alerta Nacional transmitido pela TV A Crítica e Rede TV para protestar contra uma propaganda do Burger King. A peça que, segundo ele, teria ofendido a família tradicional, trouxe filhos de pessoas LGBTQIA+ com o objetivo de comentar o que seria “na visão deles” (crianças) uma relação homoafetiva.
Neste mês, com aumento do debate sobre a diversidade, a apresentadora Patrícia Abravanel também foi criticada por dizer - em seu programa ao vivo no SBT - que é difícil falar sobre homoafetividade com seus filhos. O comercial do BK no entanto, trouxe justamente uma representação de quem vive essa realidade: ter pais gays.
Contudo, reiteradamente Sikeira afirmou em seu manifesto para milhares de sua audiência, que homossexuais não têm e não constituem família porque não reproduzem.
Durante os comentários, visivelmente revoltado, o apresentador chamou homossexuais de “raça desgraçada”, ofendeu publicitários de “lacradores fumadores de maconha” e associou às pessoas LGBTQIA+ à pratica de pedofilia.
Vez ou outra é claro, intolerantes tentam pressionar marcas que passaram a representar o nicho da diversidade em suas campanhas publicitárias, como a célebre ofensiva de Silas Malafaia contra O Boticário por conta de uma ação inclusiva do Dias dos Namorados que teve a presença de casais hétero e homossexuais.
O resultado, na ocasião, foi o aumento nas vendas dos cosméticos incrementadas por pessoas aliadas à comunidade LGBTQIA+, que decidiram se contrapor da forma que o capitalismo melhor entende: dinheiro.
Vídeos antigos do canal de Sikeira também estão sendo contestados diretamente com o YouTube. Todavia, ainda está no ar um recorte do programa de TV que ao fazer uma sátira do que seria um concurso de drag queen representado com o mais absurdo escárnio estereotipado pela sua equipe de produção, o apresentador diz ser uma pena não poder matar o filho por ser “viado”. Todavia, as políticas da plataforma de vídeos além de desmonetizar, pode banir conteúdo e usuários que praticam discurso de ódio.
O apresentador que se tornou sucesso nacional por fazer uso do sensacionalismo e ridicularização ao que ele diz combater no "politicamente correto'', agora enfrenta com a perda de patrocinadores a resposta do cancelamento de uma forma que o capitalismo também entende bem: o boicote.
A militância de forma representativa teve notoriedade em Junho de 1969 nos EUA, após a polícia brutalmente invadir e matar diversas pessoas que estavam no bar gay Stonewall Inn. As famílias das vítimas revoltadas se reuniram em passeata e então teve início a 1a Parada do Orgulho. Foi a primeira vez que houve uma insurreição de aliados (antigos simpatizantes) em prol das pessoas LGBTQIA+. E por isso este mês passou a ser lembrado como símbolo de resistência e busca por mais direitos.
Contra o apresentador, uma ostensiva retaliação de perfis, que organizados, passaram a inundar com comentários as páginas das empresas que anunciam no seu programa.
Além disso, a turma do Sleeping Giants Brasil fez chegar nos assuntos mais comentados do Twitter a tag #DesmonetizaSiqueira.
Abaixo os comentários publicados pelos patrocinadores durante a repercussão do cancelamento.
A MRV acredita na diversidade e não compactua com qualquer forma de preconceito. O programa Alerta Amazônia já não faz mais parte dos nossos planos de mídia. @mrvoficial
O Magalu é contra qualquer forma de LGBTfobia e nunca admitiremos isso. Obrigada por ter nos alertado. Não patrocinamos o programa, mas havia anúncios sendo exibidos de forma automática pelo Youtube no canal. Eles já foram bloqueados e não serão mais exibidos. @magazineluiza
Olá, @slpng_giants_pt, já solicitamos à plataforma de anúncios automáticos a suspensão da veiculação neste canal. Reforçamos que a TIM não está ligada a movimentos nem compactua com a disseminação de notícias falsas e discursos de ódio. @tim
O Ministério Público Federal, por sua vez, ajuizou ação contra a Rede TV! e Sikeira Jr pelo crime de homofobia. O procurador Enrico de Freitas pede multa de R$ 10 milhões à emissora e a Sikêra, além da retirada do vídeo da internet e a exibir retratação com o mesmo tempo o qual foi o ar os ataques.
Dado o "vacilo" pelo exagero nas declarações, ainda não se pode quantificar as cifras que agora serão menores para Sikeira, mas dada a reação rápida com o “forçado” pedido de desculpas, há de se prever que é de encher as burras de ouro, ou os burros.
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