ENEM PARA QUEM?
As desigualdades irão aumentar caso o ENEM não venha se realizar.
Hoje (15) um dos assuntos mais comentados na opinião pública foi a preocupação quanto a realização do ENEM em meio a média 1.000 mortos por dia considerando as últimas duas semanas. Com exceção ao estado do Amazonas devido à situação de calamidade pública, cerca de 6 milhões de estudantes farão a prova sob forte protocolo de segurança sanitária.
Nas redes sociais se discute entre estudantes, especialistas e algumas autoridades, como o governador cearense Cid Gomes (PDT), os riscos de agravamento caso o calendário seja mantido. Entre as dez principais tendências de assuntos no Twitter, os termos “Adia Enem por Vidas”, “Estudantes pedem socorro” e “STF adia Enem” aparecem com repercussão.
O Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) é realizado desde 1998 pelo Inep e o Ministério da Educação como medidor da situação acadêmica em todo o Brasil. Desde 2004 durante o governo Lula (PT 2003 - 2011) a avaliação passou a ser o principal ingresso nas universidades públicas. Fortalecido posteriormente por Dilma Rousseff (PT 2011 - 2016) nos programas sociais PROUNI e FIES, que possibilitaram através da nota do candidato a graduação em instituições privadas com de subsídio do MEC ou financiamento pago a juros baixíssimos para bancos públicos.
As universidades privadas recebem uma fortuna do Governo como custeio de bolsas do PROUNI (reservadas a estudantes de baixa renda) como possibilidade de inserção dos mais pobres no Ensino Superior, de modo a corrigir desigualdades. Para os grandes conglomerados da educação superior, a renovação das bolsas e novos alunos também é importante.
Sem contar os demais financiamentos incentivados pelo governo a cursos que geram competitividade no mercado de trabalho como marketing, administração, engenharia, publicidade e direito.
Embora tenhamos nos 23 anos de história a abstenção média em cerca de 40% dos inscritos e o triste episódio do furto das provas em 2009 que fez o exame ser aplicado em outro cronograma para garantir a isonomia dos participantes; o ENEM por ser o indicador norteador da elaboração de políticas públicas educacionais é importante para o futuro que é construído e medido ano a ano no Brasil.
Em 2021, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) tem confirmados 5.783.357 inscritos. São 5.687.271 inscrições para o Enem impresso e 96.086 para o Enem Digital, novidade desta edição.
No ano passado, com o advento devastador da pandemia, o que já era ruim se tornou precário para ser modesto sobre o cenário caótico que se encontra a educação pública.
Além de dificuldades para professores realizarem as atividades com os alunos, faltam equipamentos, internet e até mesmo um simples celular para as transmissões das aulas online a baixo custo.
A situação dos alunos foi ainda pior. A grande maioria dos jovens não tiveram aulas neste ano. Quando tiveram não foi intenso e funcional no preparo da vida futura.
Improviso em vídeo-aula sem interação, ausência de material didático físico para alunos sem acesso ao digital e pais que após um período confinados tiveram que voltar a sair para trabalhar, se tornou o grande desafio desbravado pelos brasileiros mais pobres.
Enquanto isso, os alunos da rede privada não tiveram praticamente interrupção do conteúdo teórico (essencial para a aprovação com boa média no ENEM) e por este mérito as melhores vagas nas faculdades públicas - estas que dispõem de inestimável credibilidade para qualquer currículo.
A única forma de se permitir um futuro é sendo corajoso para decidir o presente. Não cancelaram o réveillon na prática, pois o que vimos nos stories foi horripilante nas aglomerações e festas clandestinas.
Veja bem, não foram todos, mas houve uma tragédia anunciada e haverá uma maior ainda caso a lacuna já existente entre os egressos do ensino público e privado se torne um terrível abismo. Ainda não chegamos no fundo do poço... ainda.
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